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segunda-feira, 14 de setembro de 2015

LECTIO DIVINA

A Santa Cruz (Jo 3, 13-17)

Ninguém subiu ao céu, a não ser o Filho do Homem, que desceu do céu.
— Assim como Moisés, no deserto, levantou a cobra de bronze numa estaca, assim também o Filho do Homem tem de ser levantado, para que todos os que crerem nele tenham a vida eterna. Porque Deus amou o mundo tanto, que deu o seu único Filho, para que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna. Pois Deus mandou o seu Filho para salvar o mundo e não para julgá-lo.

Hoje, a Igreja celebra a Exaltação da Santa Cruz e, neste trecho do evangelho, Jesus propõe uma comparação entre sua crucifixão e o episódio das cobras venenosas que não podiam matar os que mordessem, desde que eles olhassem para a serpente de bronze colocada sobre uma haste, conforme Deus orientou Moisés a fazer (veja primeira leitura de hoje em Nm 21, 4b-9).

O trecho do evangelho que lemos hoje termina com uma afirmação que me parece fundamental para nosso aprofundamento na fé e na oração: “Deus mandou o seu Filho para salvar o mundo e não para julgá-lo”. Também, no deserto, o povo de Deus não foi julgado. Todos aqueles mordidos por cobras venenosas, que olhavam para a serpente de bronze colocada sobre a haste, não morriam. Não havia julgamento, nem interrogatório. Somente a graça da vida.
Diante dessas cenas e destas palavras, coloquemos-nos de forma muito simples diante do Senhor e deixemos que ele nos fale hoje. O que devemos aprender? Por que há uma cruz?
Dois versículos, de outras partes do evangelho, podem nos ajudar no aprofundamento de nossa oração.
O primeiro deles, providencialmente inserido na liturgia de ontem, diz assim: “Se alguém quer ser meu seguidor, que esqueça os seus próprios interesses, esteja pronto para morrer como eu vou morrer e me acompanhe” (Mc 8,34), ou, na tradução utilizada nas missas:  “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”.
O segundo deles diz assim: “Venham a mim todos vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso” (Mt 11,28).
Jesus faz uma proposta muito clara para todos nós. Não há julgamento, porém não é possível retirar a cruz do nosso caminho. Por que, então, Jesus insiste em falar da cruz? Ele vem para nos dar uma vida plena, e a plenitude da vida traz em si todas as alegrias e todas as dores que o caminhar em comunidade nos oferece. O mundo do consumo, em contrapartida, quer nos enganar, quer nos vender a ilusão de uma vida somente de prazeres, de festas, de curtição.
Quando nos sentimos vazios, quando sofremos por não nos sentirmos acolhidos, amados e queridos, o que o mundo do consumo nos oferece? Oferece-nos mais da mesma coisa de sempre, como se consumir mais e mais pudesse satisfazer nossos desejos mais profundos. Como se o vazio que sentimos pudesse ser preenchido por coisas que adquirimos. Pura ilusão! Nenhum objeto, nenhum show, festa, viagem, ou seja lá o que for que adquiramos, poderá preencher o vazio que sentimos sob o peso das cruzes que temos de carregar sozinhos.
Hoje, Jesus se oferece no seu despojamento sobre o madeiro, quando sozinho, abandonado e castigado por só ter feito o bem, convida-nos a estarmos com Ele nos momentos em que também nos sentirmos sozinhos, abandonados e injustiçados. Ele nos convida a não sermos escravos das ilusões que o mundo do consumo nos oferece. Ele nos convida a aceitar nossa cruz com dignidade, a carregá-la sem pré-conceitos, sem medo. Ele próprio irá suavizar o peso de nossas dificuldades e nos dar descanso, ensinando-nos a ser misericordiosos para com nós  mesmos e para com os outros, perdoando a quem nos fere e nos humilha, tornando nossa travessia mais leve e suave.
Obrigado, Senhor! Em você nós podemos encontrar tudo de que precisamos. Em você, podemos descansar quando estamos cansados de carregar os fardos que vamos acumulando no dia a dia. O Senhor não questiona por que quisemos ajuntar tanto, por que quisemos ser melhores que os outros, ter mais conhecimento, mais poder, mais status, mais riqueza. Simplesmente nos convida a carregar nossa cruz.
Obrigado, Senhor, por nos ensinar, com sua própria vida, que o despojamento na cruz, onde deixamos para trás tudo que ajuntamos no caminho: nossas vaidades, nossos desejos mesquinhos, nossa mania de grandeza, é a possibilidade de trocarmos todos os nossos teres por um simples ser com você, estar na sua intimidade e participar da sua paz.
Obrigado, Senhor, por fazer este caminho conosco, por nos sustentar em nosso encontro com a cruz. Ajude-nos a tomar nossa cruz o quanto antes. Queremos seguí-lo, estar com você na cruz que nos salva, que retira de nós os pesados fardos de nossos pecados, de nossas faltas.
Que a Santa Cruz seja sempre um sinal da alegria de sabermos que Deus nos espera. Despojados de nossas riquezas e poder, Ele nos acolherá e renovará nossa vida. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira 

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